As maravilhas das multidões

As multidões estavam maravilhadas – Mateus 7.28

Desde o tempo de Jesus avalia-se o ambiente pela quantidade de pessoas. Se a Igreja está cheia subtende-se que é boa, abençoada e próspera.

Jesus arrastava multidões. Em alguns momentos tentava esconder-se delas, mas, não era raro o povo descobrir sua localização e juntar-se à Ele.

A multidão ficava maravilhada com os milagres de cura, libertação ou multiplicação de pães. Havia muita festa e celebração quando os desejos eram atendidos. E como tinham desejos… A necessidade da multidão era insaciável.
No entanto, a voz do povo não era e não é a voz de Deus! O fato de estarem maravilhados não trazia as mudanças necessárias e Jesus conhecia os reais interesses do povo. Ao iniciar seus discursos, a multidão ia embora e o deixava a sós com os discípulos ou com a mulher pega em adultério e exposta em sua frente.

Até hoje a multidão tem os ouvidos tapados para a mensagem da renúncia, do não julgamento, do “dar a outra face” e do amar ao próximo como a si mesmo.
A multidão continua desejosa de aplaudir milagres, mensagens de prosperidade e de auto-ajuda. Porém, não tem tempo para orar e não conhece as Escrituras.
A multidão gosta de movimento, barulho e estardalhaços; detesta a solitude, o “a sós com Deus” e o confronto.

Aplaude o palco, as luzes e o som, mas, recusa-se a ajoelhar.
A multidão anda de igreja em igreja em busca de seus interesses egoístas e pessoais. Não tem raiz, não obedece e não se submete. Avalia a pregação de acordo com seus próprios conceitos e solicita do pastor uma mensagem de afago ao ego e moderna.

A multidão gosta de cantar a si mesma, louvar o “eu” e o massagear. O deus da multidão está à serviço dela e não o contrário.

A multidão entende como bênção o “ter e o possuir”, deseja casas cheias de bens, carros novos, mas nada tem a oferecer. Não acolhe o aflito, não tem compaixão com o desamparado e não se comove com o sofrimento alheio.
A multidão dificulta o acesso a Jesus. Os quatro amigos precisam entrar pelo telhado, Zaqueu precisa subir em uma árvore e a mulher com hemorragia tem um difícil percurso para tocar em Jesus. A multidão comprime Jesus, mas não lhe tira virtude; enche a casa, mas quer continuar como está e tenta impedir que Jesus entre na casa de um pecador.

Um dia a multidão também se cansa de Jesus. Tem saudades de Barrabás e grita enfurecida para a crucificação do filho de Deus.

Ainda hoje, a multidão continua crendo num Jesus pregado, fraco e cheio de autocomiseração. Continua dispersando quando os olhos de Jesus encontra os seus, e chora de remorso.

Jesus teve compaixão da multidão, as viu como ovelhas sem pastor, as alimentou, as recebeu, mas não dependia de sua aprovação. Se viu sozinho muitas vezes quando discursava acerca do Reino dos Céus. Não cobrou por seus milagres e não contabilizou seus feitos enquanto era desprezado pela multidão. Em nenhum momento, negociou milagre e não se corrompeu quando o aplaudiram entrando em Jerusalém, em um jumentinho. Jesus amava as multidões, mas sabia que elas não significavam saúde dos seus ensinos ou o sucesso do seu ministério.

Em tudo isso vê-se que não se pode viver em função da multidão, mas, também não se pode ignorá-la, pois no meio da multidão tem gente comprometida, desejosa de aprender e disposta a se doar. O menino estava na multidão e ofertou seus 5 pães e 2 peixinhos para serem multiplicados! Colocar nas mãos do povo o sucesso ministerial pode ser um caminho destrutivo, pois enquanto houver festas e milagres a multidão estará lá e em momentos de cruz dará as costas e estará entre os acusadores.

Que o Pai nos ajude a caminhar sem querer agradar a multidão, e ao mesmo tempo, aproveitar o ajuntamento para o ensino simples e fiel das Escrituras; que sejamos humildes para reconhecer que, até mesmo o Filho de Deus foi preterido e rejeitado pela multidão; que nem sempre alcançaremos multidões, mas que estejamos prontos para procurar aqueles que a multidão tem impedido de chegar ao Evangelho; que tenhamos compaixão, como Jesus, pelas multidões, mas que elas não nos guiem em seus desejos, idolatrias e ambições.

O que a Bíblia diz:

“Todavia, as notícias a respeito dele se espalhavam ainda mais, de forma que as multidões vinham para ouvi-lo e para serem curadas de suas doenças. Mas Jesus retirava-se para lugares solitários, e orava” Lucas 5.15.

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