Emaús – o caminho do Encontro com Jesus

O evangelho de Lucas, capítulo 24, a partir do versículo 13 nos conta a história de dois seguidores de Jesus, em um trajeto de, aproximadamente 10 km pelo caminho que leva a Emaús, ainda chocados com os acontecimentos referentes à morte de Jesus, conversando sobre o desenrolar da história, até então triste da traição, prisão, humilhação pública e morte de cruz que o Mestre havia sido submetido.

Os discípulos haviam ficado frustrados. Esse não era o fim que sonhavam para Jesus. Estavam passando pelo luto e pela dor da separação agravada da forma em que tudo aconteceu. Talvez, sentiam-se abandonados, confundidos entre os ideais e a realidade posta. Trocavam ideias e pensamentos até que alguém que fazia o mesmo trajeto começou a conversar com eles.

A partir de então, perplexos pelo fato de, o viajante desconhecer os fatos, expõem o que acontecera e ouvem do viajante uma explanação das Escrituras e das profecias acerca de Cristo.

Essa é uma narrativa bíblica bem comentada nos púlpitos, nos sermões e nas canções que embalam a fé cristã. E o que eu gostaria de refletir não só tem a ver com a descoberta somente mais tarde da presença do próprio Cristo com os discípulos, como também acerca do próprio caminho, Emaús, que demonstra alguns episódios comuns de nossa caminhada terrena.

  1. No caminho de Emaús nos lembramos dos milagres de Jesus.

Imaginemos quantos milagres aqueles homens haviam presenciado! Desde orelha do soldado sendo curada, multiplicação de pães, ressurreição de mortos, curas e tantos outros sinais e maravilhas que Jesus realizara na presença deles e de tantos outros.

Durante três anos viram e ouviram mudanças de muitas pessoas: Jesus entrando em aldeias, recebendo crianças, falando com mulheres, com pobres e leprosos. E agora? Os milagres acabaram! Tudo havia voltado a ser como antes!

E assim somos nós! Vivemos momentos de êxtase espiritual, de alegria contagiante, vimos milagres, fomos transformados e participamos de restauração de tantas pessoas, e, de repente, algo acontece que não esperávamos e agora olhamos para trás, temos saudade dos milagres, da intervenção de Cristo. Parece que nossas orações não são ouvidas, e muitas dessas vezes nem conseguimos orar. Tentamos reunir forças para caminhar mais algumas milhas e ficamos entristecidos nesse caminho.

  1. No caminho de Emaús expomos nossas expectativas com relação a Jesus

Nesse caminho dizemos que não era bem isso que esperávamos. Tememos dizer, mas, bem no fundo questionamos Jesus e balbuciamos: esperava um outro desfecho dessa história. Minha expectativa era outra! Pensava que ia ter vitória, ia vencer o mal, ia derrotar inimigos, ia superar a doença, ia ter sucesso espiritual, ia ser próspero. Agora pareço caminhar sem propósito como aqueles discípulos. A Bíblia não diz o que iam fazer em Emaús, parece uma viagem tão descabida… Assim somos nós!

Perdemos o propósito de uma tal forma que já não sabemos onde estamos e o que fazemos. Não conseguimos responder perguntas de outros e, nem sequer de nós mesmos. Nos esquecemos que há tão pouco tempo atrás em um momento de regozijo havíamos declarado a Jesus que nada nos havia faltado. Agora sentimos falta de tanta coisa!

  1. No caminho de Emaús somos confrontados acerca da decepção e frustração

Os discípulos estavam decepcionados, desencorajados e frustrados. Algo havia saído fora do esperado e agora como lidar com isso? O caminho de Emaús nos ajuda a olhar dentro de nós mesmos e confronta a nossa decepção. É a hora em que olhamos para o nosso planejamento anual e/ou financeiro e perguntamos: o que deu errado? Onde foi que eu não consegui evitar esse resultado? Nos esquecemos que não cai uma folha da árvore sem a permissão de Deus! Descobrimos que somos impotentes e, até mesmo, humanos! As peças do quebra cabeça não encaixam e nos colocamos a caminhar, meio que sem rumo, na estrada! Fazemos uma revisão mental do que achamos que deu errado e queremos consertar o passado num passe de mágica, e, diante da impossibilidade precisamos lidar com a desesperança e a aflição!

  1. No caminho de Emaús lidamos com perdas e lutos

O caminho de Emaús nos traz a dor do luto e da perda. Perdemos a alegria. O que mais acreditávamos está agora morto e enterrado. A dor de perder alguém que era nosso porto seguro está latente e não há nada que possamos fazer. Os resultados dos exames médicos nos estremece e abala nossa segurança. As oportunidades de êxito são eliminadas e vemo-nos incapazes de encontrar saída. Nos resta o caminho da dor, da solidão e do luto. Nada parece ter sentido, nos resta ferir um pouco mais os pés e seguir para Emaús sem nenhuma expectativa de melhora ou de transformação.

Porém o caminho para Emaús nos revela algo inesperado. Quando acabam-se nossas expectativas, quando nossos esforços são em vãos e nulos podemos ter uma reviravolta na nossa vida. Vejamos:

  1. Nos aproximamos das pessoas

O caminho de Emaús revela pessoas que chegam de mansinho em nossa vida e se tornam uma companhia demasiadamente boa no nosso caminhar. Por mais que estejamos tristes e desconsolados, Deus sempre providenciará um amigo, talvez até sem nome ou desconhecido que passará esse trajeto conosco de maneira a não nos deixar sozinhos.

Esses amigos podem ser os companheiros de tratamento médico, os amigos de trabalho, um chefe, uma pessoa que se sente ao nosso lado no ônibus, enquanto se espera para ser atendido e etc.

A Bíblia fala em Hebreus 13.2: Não deixem de receber bem aqueles que vêm à casa de vocês; pois alguns que foram hospitaleiros receberam anjos, sem saber. Não podemos perder a oportunidade de termos como companhia anjos de Deus, e alguns desses anjos são de carne e osso como nós, mas trazem a ternura de uma companhia que faz bem e cura nossa alma!

  1. Temos com quem conversar e expor nossa fragilidade

O caminho de Emaús torna-se um lugar onde desabafamos. A princípio pode parecer um trajeto sem finalidade clara, mas é uma estrada onde todos precisamos passar: a estrada do desabafo!

É humano demonstrar fragilidade. É humano chorar! É humano esvaziar de rancores, de temores, de medos de planos que viraram um exemplo de fracasso!

Deus nos fez gente! Jesus tornou-se gente e, portanto chorou, teve dores, provou da nossa humanidade restrita e dolorosa! Deus nunca exigiu de nós algo além de nossa humanidade. Deus nos quer ver gente com capacidade de aceitar fracassos, decepções e, por que não, chorar, às vezes, amargamente!

O caminho do cristianismo não é um caminho de super heróis ou semideuses, mas é um caminho de reconhecimento de erros, de fragilidades e de reconhecimento da necessidade de Deus!

  1. Nos preocupamos com a segurança de quem viaja conosco

Caminhando para Emaús encontramos pessoas que, à semelhança do viajante, precisam caminhar mais, no entanto, necessitam de acolhimento e descanso. Quando mais precisamos de pessoas, mais podemos ajuda-las! Esse é o caminho do altruísmo! O caminho que o bom samaritano fez: atrasou sua viagem e cuidou de alguém ferido e abandonado na estrada. Nossas decepções, frustrações, perdas e tristezas não podem ser empecilhos para cuidarmos das feridas de outras pessoas.

Aliás, na parábola do Bom Samaritano quem, supostamente, estava mais limpo e curado não estava disposto a se sujar com a miséria humana. O bom samaritano não era alguém do púlpito. Não estava em evidência! Não ministrava o louvor e, tampouco a Toráh, porém, era um anônimo que se preocupava com o próximo. Alimentar nossas feridas e dores não nos faz melhores e, tampouco curados! Promover o bem estar do outro nos traz cura e nos tira do caminho da autocomiseração!

  1. Entendimento das Escrituras

O caminho do Emaús ainda nos reserva outra surpresa a do conhecimento Bíblico. O viajante passou a descrever os acontecimentos bíblicos desde Moisés e os profetas acerca do Messias e do que lhe aconteceria.

Enquanto caminhamos para Emaús, aquele caminho que, teoricamente, é uma perda de tempo e propósito, aprendemos mais de Deus e de sua Palavra! O Espírito Santo nos lembra das Escrituras e a Palavra de Deus vai tomando forma em nossa vida. Lembramo-nos das profecias e, enquanto estudamos a Palavra, a fé é alimentada dissipando o medo e trazendo maior entendimento do propósito de Deus para nossa vida. O caminho para Emaús é importante para trazer-nos um retorno para a Bíblia e não somente uma vida espiritual baseada em milagres.

  1. A presença de Jesus: ardendo o nosso coração e trazendo consolo.

Por fim, ao terminarmos o caminho e ao participar da comunhão com o viajante teremos uma verdadeira consolação: descobriremos que no caminho de Emaús não viajamos sozinhos entre pessoas frágeis e sem esperança, pois, o próprio Jesus esteve fazendo todo o trajeto conosco. Na verdade, ele nos ouviu o tempo todo, não nos condenou, mas nos acolheu nossas lágrimas e reclamações. Através do seu Espírito nos aconselhou e orientou na busca nas Escrituras, ampliou nossa visão espiritual, fortaleceu a nossa fé e agora está participando de uma mesa onde nossas necessidades físicas são supridas, quando nos permite que os olhos sejam abertos e reconheçamos sua preciosa presença ao nosso lado.

Olhamos para trás e só há uma certeza: tudo fez sentido, as peças se encaixam e passamos a compreender o propósito da caminhada.

Se não tivéssemos saído para Emaús não teríamos tido a oportunidade de caminhar lado a lado com Jesus. Afinal, Ele não se foi, esteve o tempo todo conosco apesar de nossas imperfeições, frustrações e desesperança.

O nosso coração arde, queima como o fogo e a alegria volta. É hora de fazer o caminho de volta para Jerusalém, pois, outros precisam saber que Jesus está vivo e as Escrituras Sagradas têm se cumprido em nós, na nossa história e em todo mundo.

Quiçá, outros estão indo para Emaús, tomando o caminho da dor, da tristeza, do luto e da decepção, porém, se se permitirem dialogar com aquele que se aproxima deles, poderão experimentar uma revolução em suas vidas: da companhia, da humanidade do desabafo, do altruísmo, do conhecimento bíblico e da verdadeira comunhão com aquele que viveu, vive e viverá para todo o sempre!

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