O direito da criança do ponto de vista de uma criança

Num domingo de manhã, com o corpo sentindo o estresse da semana, vou com minha filha, na ocasião com apenas 7 anos, ao Mercado. Precisávamos comprar algo para preparar o almoço. Na saída, já no Caixa, minha filha comenta: “mãe, aquela menininha ali está com uma carinha de triste…”. Olho para a porta e constato o que minha filha me disse. Uma pequena criança aparentemente assustada e chorando. Comento com as pessoas ao redor, e nenhuma delas manifesta conhecimento acerca da garotinha. Alguém se aproxima para conversar com ela e perguntar o porquê do choro, mas para a nossa surpresa o choro aumenta e ela sai sozinha, pela rua.

Olho para minha filha que diz: “Mãe, na minha escola tem uma regra que diz que a criança tem que ser socorrida em primeiro lugar, e isso é um direito!” Concordo com ela e digo: “então, vamos lá!”. Saímos atrás da garotinha, eu tentando me aproximar, ganhar a confiança, minha filha tentando dar-lhe um chiclete e após quase presenciarmos a garota ser atropelada por um carro, conseguimos que ela nos esperasse e me desse a mão.

Criança perdidaTento conversar com ela, lhe pergunto a idade, ela me responde: “três”. Pergunto o nome da mãe e ela me diz, “vovó”. Assegurei-lhe que iria até sua casa com ela, mas conforme andávamos o desespero dela ia aumentando e como eu estava sem o celular me ocorreu a idéia de irmos até minha casa, eu pegaria o celular e acionaria o Conselho Tutelar.

Já com o telefone em mãos, continuo a andar com ela, ao passar por uma casa na rua ao lado da minha, ela olha e diz alguma coisa. Rapidamente pergunto: “conhece alguém que mora aqui?” E ela diz: “sim”. Bati palma e esperei. Apareceu um menino já quase adolescente e reconheceu a garotinha. Era seu irmão. Pedi-lhe que chamasse um adulto. Veio uma avó. Dali surgiu a triste história da garota. Ela mora com uma bisavó, numa favela, sua mãe está reclusa há 2 anos e seu pai foi assassinado assim que ela nasceu. A bisavó, pelo relato, já é de bastante idade e, provavelmente, se esqueceu da neta no mercado. A criança entrou e parou de chorar no mesmo momento. A mulher me assegurou que iria investigar o acontecido e comunicar a velha senhora de que a bisneta estava segura ali. Me despedi e voltei para casa a fim de preparar o almoço.

No caminho, elogiei minha filha por ter notado a expressão de tristeza no rosto daquela menina, e disse que nós devemos, mesmo, cuidar das crianças para que elas fiquem bem. Ao mesmo tempo em que eu mesma refletia a história da pequena criança comparando com as muitas que residem no abrigo onde trabalho.

Atualmente, o Brasil dedica o dia 12 como sendo o dia das crianças, mesmo que a dedicação seja compartilhada com motivos religiosos. E, penso que o melhor presente para as crianças seria proteção, se não for pela própria família, por outra que esteja disposta a olhar para elas.

Uma pequena criança com lágrimas nos olhos pode passar despercebida pelos adultos. Na nossa correria, estresse, preocupação com nossos “próprios” problemas, podemos não ver e até não querer ver o sofrimento de pequenas pessoas. Mas, as crianças que estão conosco poderão ver e, como aconteceu, querer ver em nós uma possibilidade de solução, de cuidado, de proteção, mesmo que essas crianças “perdidas e tristes” não sejam nossos familiares.

Li diversas vezes o Estatuto da Criança e do Adolescente, mas apenas um direito dele (Prioridade Absoluta) que minha filha teve acesso fez mudar uma situação que poderia ter um desfecho muito infeliz. Através disso pude refletir aquela frase de Jesus: deixai vir a mim os pequeninos, porque deles é o Reino dos Céus. Enquanto nos preocupamos com casa, trabalho, status, lazer, descanso, as crianças olham para as pessoas e conseguem enxergar o que não conseguimos ver.

Minha oração, após essa linda experiência com minha filha é de que Deus nos ajude a nos tornar como crianças, humildes e preocupadas com o bem-estar de pessoas, afim de que possamos viver uma vida compatível com nosso Mestre, colocando em prática o que pregamos e um dia podermos entrar no reino dos Céus, conforme Mateus 18.2.

Bíblia:

Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: “Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus”. Mateus 18.2.

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