Vida, lição da morte

Enfrentar a morte é um grande mistério da humanidade. Todos sabemos que o dia chegará, mas não sabemos como acontece.

Admiro quem lida com a morte todos os dias: Aqueles que declaram a morte de seus pacientes após o tratamento apresentado não obter o alcance desejado, ou os que precisam noticiar os familiares sobre a partida de alguém ou aos que recebem um familiar enlutado que precisa escolher os paramentos que seguirão no velório de um ente querido.

Giovanachegando na escola na nova rampa de acessibilidade!
Foto: Lisanias Loback – NUSELON 2017

Recentemente passei pela experiência dolorosa de assistir uma pessoa terminar a sua vida aqui. Embora, todos soubéssemos que seria o melhor para ela no momento, enfrentar aqueles minutos em que a respiração parou e o corpo ficou destituído de alma, foi uma experiência indescritível. Mistura de dor, medo, saudade e perda… Lidar, depois, com efeitos da morte, e se conscientizar de que aquele momento mudava tudo para aquela pessoa foi e está sendo um processo lento e sem volta.

A morte põe um ponto final na vida terrestre. O que conhecemos desta vida fica para trás. As risadas, os bons momentos, os presentes, as conversas, as tentativas, os ganhos… mas ficam também, as dores, os insucessos, as perdas, a saudade, as lágrimas e os infortúnios.

Não escolhemos o dia da morte. Até mesmo quem tenta por fim à vida não está seguro quanto à sua finalização. A morte acontece. Há quem a espera e os que são pegos de surpresa. A morte surpreende. Assusta. Alivia e faz repousar.

Salomão dizia ser melhor ir onde havia luto a festa. Luto nos faz pensar, valorizar a vida, refletir… festa nos faz apenas viver aquele momento: sem questionamentos, sem reflexões. O luto nos fala de família, de amizades, de companheirismo. Luto nos fala do que realmente importa: a vida!

Impressionante isso, mas, morte fala de vida! Qual vida se viveu, o que se perdeu e o que poderia ter sido melhor. Os que mais se veem perto da morte, mais valorizam a vida, mais a gastam no que realmente importa!

A morte não escolhe idade, sexo, classe social ou religião. Estamos todos sujeitos. Nosso corpo poderá até mesmo ser sepultado ao lado de um desafeto em vida, mas, não fará nenhuma diferença.

O corpo deteriorará, mas, a alma já não estará ali. O choro e a lágrima de quem ama não o trará de volta. É a viagem que todos farão um dia; sem volta.

Enquanto caminhamos para o fim, a vida precisa ser vivida, comemorada e empregada em algo que valha a pena. Na construção de pontes, no tear de uma manta quente, na distribuição de abraços e sorrisos. Nossa vida é um presente temporário e só terá sentido se cumprido o objetivo pelo qual foi nos entregue. Toda a vida tem uma missão, mas tem muitas vidas perdidas em interesse próprio e finalidades vãs.

Assisti morrer alguém que: embora não falasse nos disse o que valia a pena; embora não andasse nos levou a lugares nunca idos; embora fosse totalmente dependente, nos ensinou o quanto somos dependentes. Sorriu e fez festa enquanto a água do chuveiro caía sobre o seu corpo deformado; gargalhou enquanto podia e usou as suas mãos frias inúmeras vezes para tocar de forma carinhosa quem lhe cuidava.

A Bíblia fala

É melhor ir a uma casa onde há luto do que a uma casa em festa, pois a morte é o destino de todos; os vivos devem levar isso a sério! Eclesiastes 7.2

4 comentários em “Vida, lição da morte”

  1. De fato foi exuberante a vida que ela viveu, mesmo em sua singela condição. Nos ensinou o que talvez em mil anos ninguém poderia ter ensinado. Que as lembranças nunca nos deixe esquecê-la, e que sua morte faça reviver nossa alma naquilo que realmente importa.

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