O significado de ser mulher (apesar do Carnaval)

Ser mulher, apesar do Carnaval

Na semana do dia da mulher, do ano de 2019, calhou de ser o Carnaval, o que isso significa?

Carnaval no Brasil é sinônimo de “bunda e peitos de fora”, nada de estrias e com óleos para reluzir, sem gordura localizada, sem celulite.

Muitas mulheres que desfilam nas escolas de samba pelo país, ostentam um corpo escultural, e utilizam o “tapa-sexo”, como se fizesse muita diferença.

Interessante notar que, embora haja uma luta infinita para a desmistificação desse padrão de beleza para a mulher, e da abolição da ditadura da beleza que se impõe e, ainda a tentativa de dissociar a imagem da mulher como um objeto sexual, não se tem tido muito resultado positivo para as “milhares de mulheres comuns”.

Não conheço nenhuma mulher que desfila ou desfilou no carnaval. A maioria das mulheres que conheço estão nesse período aproveitando para descansar, viajar, ou para colocar as tarefas em ordem.

Todas as mulheres que conheço possuem detalhes, tido como defeitos na passarela do samba: estrias, peito caído, rugas, gordurinhas extras e grande parte está acima do “peso ideal”.

Algumas abriram mão da carreira profissional para cuidar dos filhos, ou dos pais, e vivem uma vida de abnegação pessoal. A maioria se encontra satisfeita ocupando o seu espaço na família, na sociedade, trocando fraldas, amamentando ou lavando roupas.

Outras carregam a casa, filhos, casamento com o trabalho fora sabendo que o seu salário é parte fundamental no orçamento doméstico. Dividem-se nas horas extras, noites mal dormidas, reuniões na escola, acompanhamento nas tarefas, com ou sem o marido! Mas, sempre são elas as inquiridas nos consultórios médicos ou na mesa da supervisora escolar, de que o acompanhamento não está sendo suficiente ou adequado: ou pelos dentes mal escovados, pela letra rabiscada, pelas orelhas no caderno até o possível transtorno de aprendizado da cria, ou problemas relacionados ao crescimento.

Há ainda as super mulheres! As que são “pães” (pais e mães), não tem com quem dividir a cólica do bebê, os dentes rompendo, os galos dos primeiros passos, as mordidas na Escola (quando se consegue uma vaga) e por aí vai.

Imagino uma dessas mães — de qualquer configuração — pois todas são guerreiras, e como eu sempre digo aquele ditado “cada um sabe onde o seu sapato aperta”, acalentando uma criança, em tempos de carnaval, e ao acionar o controle remoto da TV, se depara com mulheres extremamente “bem cuidadas”, no currículo: novelas, filmes, trocas de marido, enfermeiras como babás, SPAS, clínicas de estéticas, lentes de contato dentais, às vezes ainda, no período delicado do puerpério, sacudindo a bunda brilhosa, jogando beijos pra plateia, desfilando com plumas, maquiagens e os peitos que estariam amamentando, como se nada tivesse acontecido.

A mãe, sozinha na sala, com uma criança que não para de chorar, se sentindo cansada, gorda, barriga ainda por desinchar, cabelos e unhas por fazer, o leite do peito molhando a roupa, com odor azedo, um saquinho de leite ambulante… Às vésperas do dia da mulher!

Sociedade cruel – Os muitos desafios para a Mulher

A sociedade é cruel com a mulher! Não basta gestar, parir, criar, amar, se dividir, fazer a criança ou o filho adolescente sorrir — a sociedade deseja uma mulher autossustentável, que emagreça sem adoecer, que tenha peito, bunda e cintura, mas não barriga! Que mostre as pernas sem varizes, que saiba rebolar, sambar, ser o desejo dos olhos alheios e provocar suspiros na passarela!

A sociedade quer um cabelo hidratado, rosto sem manchas, sem bigode chinês, olhos esfumados, base, batom, brincos, correntes, retoque de raiz, mechas ou luzes! A sociedade impõe, manda e a mulher não pode, ainda, falhar como mãe, precisa “comparecer” ao marido regularmente, sorrindo, sem dor de cabeça, sob pena de uma boa justificativa para o adultério.

A sociedade quer que a mulher equilibre os hormônios e esteja sempre pronta para um rebolado a mais no sambódromo da vida.

Na realidade a sociedade quer o carnaval todos os dias, não aceita as marcas do tempo, da enxada, da depressão, da ansiedade, dos quilos a mais na gestação, das olheiras… As marcas de gente humana, de mãe e de pessoa!
Mulher, não necessariamente, está de salto! Mulher amarra o cabelo em rabo de cavalo, sai de chinelo, rasteirinha e corre atrás do transporte público!

Mulher acorda quando as beldades carnavalescas vão dormir! Carrega 2, 3 filhos no carrinho, rumo à Creche, debaixo de chuva, no frio ou sob o sol escaldante.

Enfrenta a jornada diária de trabalho, às vezes, de pé, o dia todo atrás de um balcão, ou numa loja franqueada, com tempo estipulado para usar o banheiro, necessitando permanecer maquiada para agradar ao cliente, muitas vezes com cólicas menstruais e sempre sorrindo, sob pena de ser advertida ou perder o posto de trabalho.

No fim do dia, encontra os filhos na porta da Escola, um lugar que mais parece o saguão da bolsa de valores, ficando na ponta do pé, morrendo de saudades do “rebento” que ali ficou o dia todo!

E há aquelas, nem mais nem menos importante, na fila de carro esperando a vez de parar em frente a escola e acomodar o filho tagarela no assento adequado, cruzar bairros pra chegar em casa, prestando atenção no trânsito, no retrovisor e no assunto da criançada!

Encontrando o significado de ser mulher no dia a dia

Essa sim é mulher de verdade. A mulher que faz o que faz com alegria, por prazer. Leva seu sobrepeso com gracejos e anedotas. Que releva a cara feia do chefe quando precisa sair mais cedo pra acompanhar o filho com febre ao pediatra ou quando é chamada na escola pra resolver um conflito.

A mulher que ignora revistas como “Contigo ou Caras”, e faz sua própria história com calos no pé, sapato gasto, roupas das estações passadas, que faz milagre com o tubo da pasta de dentes, que borra a maquiagem com um infantil “eu te amo”, ou quando encontra colo, acalento e acolhimento de alguém!

Mulher que tira o coelho da cartola quando a visita chega sem avisar na hora da refeição, que faz um remendo novo no joelho da calça do filho, que acolhe o jovem deixado pela namorada, ou que atende os pais idosos, que precisam de cuidados.

Mulher é, também, a menina que não casou, que dribla a solidão, que cozinha para si apenas, que tem alvos e objetivos como todo mundo, mas que respeita o seu corpo, não expondo sua nudez para se sentir valorizada.

Mulher é a idosa que já passou por várias fazes na vida, que ainda cuida do neto como mãe, ou que encontrou outro sentido em sua vida! Viaja, curte netos, ou encontra um talento manual!

Mulher não é sinônimo de bunda, nem de peito endurecido pelo silicone! Não é alguém que sorri enquanto passa a avenida, mas que diante das críticas tomba e se afunda no álcool ou em substâncias entorpecentes.

Mulher chora enquanto continua; ri enquanto chora; se compõe e recompõe; se alegra com um passo do filho, com uma palavra; com o sucesso do marido; com a superação das amigas; com a profissão; com a música infantil; com a história pra dormir; com a maquiagem da festa; com os gramas perdidos; e com uma infinidade de detalhes que fazem-na ser cada dia mais Mulher!

04/03/2019

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